Ad Astra e a Pós-Distopia
Brad Pitt faz o papel de um astronauta que parte em uma missão difícil, que envolve encontrar seu pai, dado como morto. Pitt é conhecido (e se apresenta durante todo o filme) como uma pessoa estável, ou seja, tem foco nos projetos e não sai do eixo em nenhum momento. É famoso por nunca ter variado seus batimentos cardíacos em situações de risco.
Aparenta ser um sujeito frio e objetivo, mas há sentimentos de fundo que são apresentados em formato de flashback ou de reflexões, vozes internas. Percebemos algo que se assemelha a uma melancolia, um desgosto gerado pela dificuldade que sente para se envolver com pessoas (no sentido da entrega). A junção destes pensamentos com suas atitudes começam a moldar uma personalidade menos fria, e mais fechada, encapsulada.
A busca pelo pai se transforma numa grande Jornada do Herói, típica das apresentadas por Joseph Campbell. Uma série de imprevistos não o impedem de ir na busca do pai. E esta busca talvez seja uma das mais belas apresentadas pelo cinema americano nos últimos tempos (a outra talvez seja Peixe Grande, de Tim Burton).
Além de toda a questão da busca edipiana pelo pai, um detalhe do filme chama muito a atenção: Em todas as etapas (fases), para poder prosseguir em sua jornada, o herói é verificado, passa por uma fronteira. E nela não são requeridos documentos, a validação é psicológica. Um computador faz perguntas sobre o estado mental dele, seus batimentos cardíacos são checados, e só se ele estiver "estável" ele poderá continuar sua viagem. Isto acontecerá várias vezes durante a história.
A Sociedade de Controle, muito citada por Byung Chul Han e outros pensadores da atualidade, em Ad Astra não é uma ameaça, é uma constatação. Ela já está instalada, não há conflitos nem confrontos com as grandes máquinas e instituições. O personagem de Brad Pitt não se revoltará contra este contexto, ele aprendeu a viver nele. E é daí que a complexidade do filme é revelada. Se há uma série de fatores psicológicos que afetam o personagem e que remetem ao pai, por outro lado é na anulação de suas emoções e de suas variações de temperamento e sentimentos que ele consegue chegar onde chegou. Não há possibilidade de confronto com o mundo maquinal que o rodeia, não há como fugir, só ir para a frente.
A figura do pai aparece como um contraponto à figura do filho. Se um se anula para poder continuar a passar pelas etapas e seguir rumo ao seu destino, o outro busca os limites deste mundo, ora para compreender melhor o mundo que habita, ora para fugir dele.
Num futuro distópico, de acordo com o filme, teremos duas opções: Se resignar ou fugir.
Alessandro Bender 2023