E o PT? E o Lula?
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Precisamos ensinar ética nas escolas desde cedo
Faz trinta anos que dou aula e acompanho um fenômeno comportamental que parece não terminar nunca.
No meio de uma bagunça dentro de sala de aula chame a atenção de um aluno em específico. Tente colocar ordem começando por ele. A resposta virá de uma maneira indignada, quase um desabafo
Por que você está dando bronca só em mim? Olha o resto da classe! Eles estão fazendo bagunça também.
Isto é a cara do Brasil. Se meu vizinho pode jogar o lixo na rua por que eu não posso? Esta inversão lógica infantil está espalhada por toda a nossa sociedade.
Esta lógica traz também uma gradação, um espectro de gravidade do que é mais ou menos errado. Somos um povo que transita pelas leis, não que as segue. Dizem que no Brasil não basta promulgar uma lei, ela precisa "pegar" para valer.
Com a escalada da corrupção, precisamos criar o que é grave e o que não é grave, somos um povo corrupto governado por instituições corruptas
Sim, é uma atitude imatura, e é sobre isto que estamos falando e trazendo para o foco deste texto. Roubar 500 reais é menos grave que roubar 5.000 reais? Quanto de roubo é considerado sério? Roubar o chocolate na padaria é menos grave do que roubar um carro? O "roubo" em si não é sério, mas sim o quanto ou o como você rouba.
Acho que este debate ético precisa ser aplicado em todas as escolas durante muito, muito tempo. Gerações precisam conversar sobre os limites de infração da lei para podermos ter real percepção de que sempre infringimos as leis no Brasil. E não é só porque seríamos canalhas, num sentido Rodrigueano, mas é porque estamos imersos num lodo que nos impede de andar para a frente se seguirmos todas as regras.
Simplesmente não dá para ser empresário sem tentar burlar o fisco, construir uma casa sem infringir uma lei, buscar o filho sem parar em fila dupla, e assim vai.
(já ouviu alguém falando a frase acima?)
Culpamos os outros mas nos eximimos de culpa quando é no nosso caso. Como disse uma vez um taxista:
O problema do Brasil é que chamam meu filho de Viciado, mas quando é o filho deles eles querem que chamemos de Dependente Químico.
Chamamos o filho branco do rico de distribuidor de entorpecentes e o filho do pobre de traficante. Queremos que as regras só funcionem para os outros, da mesma maneira que vemos acontecer na esfera da elite política e financeira. Queremos o status de inimputáveis, queremos um dia nos tornar acima das leis.
Por isto o discurso que vemos dos eleitores do Bolsonaro falando
Lembra muito meus alunos adolescentes inconformados em serem pegos fazendo coisa errada…
Quando você acompanha nas redes sociais a pseudo-guerra entre esquerda e direita fica claro isto. A direita procura algum fato histórico ou algum atual para publicar ao invés de assumir que está errando. Como se dissesse:
Os americanos mataram todos os seus índios. E agora querem que a gente não mate os nossos? Se eles puderam por que a gente não pode?
Por que eu não posso fazer coisas erradas? Todo mundo estava fazendo bagunça, não fui eu que começou, e você está pegando no meu pé só agora? Vai colocar para fora de sala quem começou, e não eu. Eu apenas estava fazendo o que todo mundo fazia.
Foi assim com o FHC culpando a ditadura, com o Lula culpando o FHC, e agora com o Bolsonaro culpando o Lula
Também é assim quando um grupo de professores do Ensino Fundamental II responsabiliza os professores do Ensino Fundamental I e os professores do Ensino Médio responsabilizam os anteriores pela falta de qualidade no ensino. De acordo com esta lógica ninguém é responsável, seriámos apenas fruto de um passado nefasto que corrompeu definitivamente nossa alma e deste estado não conseguiríamos sair. Somos vítimas, e não responsáveis pela nossa condição.
Sem aulas de ética e debates sobre o que é certo e errado não conseguiremos mudar esta situação. E não adianta colocar este debate só no Ensino Médio. Precisamos fazer com que crianças de 4,5 anos comecem a falar sobre isto para que mudemos esta percepção.