Fique triste não, é só depressão

Alessandro Bender
4 min readApr 11, 2018

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A depressão é um descompasso, é um momento onde temos um profundo esvaziamento de sentido. Posso falar com propriedade, pois no momento passo por uma das "severas". Como tenho altos e baixos, estou aproveitando o meu "alto" do dia para escrever e dar algum sentido a um dia cheio de tristezas e choros. Esta é a parte boa de sublimar: Pelo menos transformamos a tristeza em algo que depois podemos olhar e julgar esteticamente.

Se reparar na foto acima (que sem me ligar transformei na foto de perfil do FB) estou descendo num elevador escuro, rosto sério. Estava indo na direção dela e nem tinha percebido.

Além dos esvaziamento de sentido há uma hipertrofia de sentimentos ruins e pouco generosos. E, horror dos horrores, ninguém consegue entender. As pessoas estão nos ônibus, fazendo compras, e você lá, estatelado, esborrachado por dentro e banal por fora.

Para alguma pessoa ao seu redor perceber alguma coisa demora um tempo, você já vai estar afundado até o pescoço numa merda nonsense. Pois no primeiro dia vão achar que você está meio chato. "Alê é tão pessimista". Ouvi e isto inúmeras vezes da minha ex-companheira no começo deste ano (sim, ela não aguentou minha "chatice" e vazou). "Você só vê o lado ruim das coisas". E você lá, bonitão, passeando com a depressão e gente que têm (ou tinha) intimidade com você apontando o dedo. "Nossa, como você está mal humorado".

Na verdade você vai começar a acreditar nisto. Faz sentido até. Tu é um bosta, portanto aquele cheiro de cocô que está exalando até combina. A culpa é sua de ser um bosta. Todo mundo legalzão, sorrindo e você ali atrapalhando a felicidade da galera. Virou o espalha roda. Isto quando têm ânimo de sair, pois começa a se tornar cada vez mais introspectivo.

Se parar para pensar é um tipo de espiral, um vórtex, que vai te puxando cada vez mais para baixo.

E as pessoas não são obrigadas a perceber isto. Principalmente pelo fato de você nem ter energia para compreender o que acontece, muito menos de explicar para os outros. Eu por exemplo só resolvi procurar um psiquiatra muito tempo depois dela ter se instalado. A minha palavra mágica mental foi "Eu não consigo dar conta disto". Quando percebi que a frase vinha na minha cabeça "Não consigo sair disto, não sei o que fazer" foi que a luz amarela-quase-vermelha ligou e procurei ajuda médica.

Cada pessoa têm sintomas e reações diferentes. No meu caso fiquei neurotizando um milhão de coisas que aconteciam e que tinham acontecido. Fiquei pensando em todos os fracassos recentes, todas as perdas que tinha tido. E analisava cada detalhe, cada gesto, expressão e tom de voz daqueles que me rodeavam.

Como já tive episódios no passado que me levaram a caminhos sombrios o psiquiatra resolveu começar o tratamento pela fritação mental que estava passando, para depois tratar a depressão em si. Tanto que neste momento continuo melancólico e desolado, mas tenho fritado menos por causa do remédio que ela receitou.

Passei os últimos 45 dias dormindo apenas 3h por noite, e fazendo no máximo meia refeição por dia. Apetite e sono foram pro saco, e descontei violentamente no cigarro e café.

O que me segurou nos últimos tempos foi a meditação (que nunca tinha feito) e correr. Sim eu sei, é maluco pensar que corro 4 vezes por semana à base de cigarro e café, mas corria e depois ia para o parque, sentava na mata e chorava enquanto meditava. E estas atividades me deram o mínimo de sanidade para poder continuar de pé.

Outra coisa importante foi reconectar com pessoas capazes de perceberem que você está na pior, e ser franco com elas. Avisar os amigos: "Oi tudo bem? Então, estou na merda e preciso de ajuda". Papo reto, senão ninguém entende. Pois todo mundo está chateado nos dias de hoje. Todo mundo está baixo astral, o mundo está fedido, e se você disser que está meio baixo astral o seu amigo vai concordar e dizer "Eu também". Mas ele não está abraçado numa depressão profunda sendo drenado e sugado pelo chão. E você está.

Estou me cuidando, continuo correndo e meditando, mas agora com ajuda de remedinhos. Continuo se ver sentido nenhum no que faço e não vejo perspectivas, mas comecei a ver que existe uma grande nuvem me encobrindo. Antes achava que a nuvem que encobria o mundo era eu. E já faz uma bela diferença.

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Alessandro Bender

pesquisador do comportamento humano, tendências e arte