Máquinas de produzir conteúdo
E se seu disser que parece que estamos dentro do espelho?
Relevância nas Redes
Você produz conteúdo o dia inteiro, quer seja publicando fotos no instagram, vídeos no YouYube, Tiktok ou pequenos artigos e comentários no Facebook, Linkedin, blogs, etc.
Antes de seu conteúdo chegar aos seus pares, para que possa ser avaliado e curtido/compartilhado/execrado/comentado, ele será mediado.
Quem irá mediar seu conteúdo é uma máquina, que usa um ou mais códigos dinâmicos para avaliar o que você produziu. E há algumas funções sociais nisso, como evitar que incitação de ódio e bizarrices que atestam contra os códigos sociais e a legislação venham a público.
Tirando o aspecto social e legal primário, o resto que os códigos farão é entrópico: os conteúdos serão tornados mais ou menos relevantes para que a rede e seus proprietários continuem relevantes. Não há um projeto, uma curadoria social, apenas um grande mercado a céu aberto, que vende qualquer coisa que alguém esteja disposto a comprar.
Assim, temos um fenômeno que faz o MASP ter 808.000 seguidores no Instagram e a Jojô Todynho ter 26.400.000 seguidores . Nada contra a influenciadora, ela é apenas uma entre muitas outras estrelas nesta constelação das redes.
De acordo com a lógica do Instagram, a influenciadora seria 300 vezes mais relevante que o museu fundado por Assis Chateaubriand.
Se ela é mais influente que o MASP (e que eu, você e a torcida do Corinthians, clube que tem 9.500.000 de seguidores), ela também aparecerá mais vezes como sugestão de conteúdo para as pessoas em geral.
Falsa sensação de controle
Da mesma maneira que as naves espaciais, as redes na internet nos dão a falsa sensação de controle, o que nos sacia e nos ilude. Podemos apertar um botão ou outro, ver algumas luzes piscando, mas quem gerencia tudo é a torre de controle. Ninguém toparia participar de uma rede de maneira absolutamente passiva. Até a antiga televisão tinha seus canais para trocarmos de vez em quando.
Teste de Turing ao contrário
Nos anos 1950 Alan Turing, o inventor da computação, criou o Teste de Turing, que consiste em dois conteúdos serem apresentados para um ser humano e ele tentar decifrar qual deles foi escrito por uma máquina e qual foi escrito por uma pessoa. De acordo com Turing, quando um ser humano não conseguir descobrir que o texto foi escrito por uma inteligência artificial, isto significará que as IAs se equivalerão ao ser humano.
Curiosamente o que acontece hoje é que nós, enquanto desenvolvedores de conteúdos, tentamos mostrar para máquinas o que produzimos para ela definir o que será aceito por outras máquinas. Só assim poderemos atingir a qualidade esperada e, talvez, nossos conteúdos sejam mostrados para outros seres humanos.
Nós, hoje, somos as máquinas de produzir conteúdo, ou simulamos as máquinas para podermos passar no Teste de Turing que os algoritmos apresentam como barreira para sermos relevantes ou não. Há uma inversão de papéis, até que finalmente as inteligências artificiais criem este conteúdo, avaliem a si mesmas e ofereçam nas redes.
Os botões vão continuar
Continuaremos apertando botões, mas eles serão cada vez mais lúdicos. Não teremos nenhum controle sobre o que será apresentado, nos bastará consumir e brincar com os botões.
Alessandro Bender 2023