O Hábito faz o Monge, mas não o torna melhor do que os outros

Alessandro Bender
2 min readNov 20, 2019

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A Falsa Superioridade da Pureza

Você já deve ter se encontrado com alguém que é Vegano, e ao olhar para você, dá uma respirada, muda o tom de voz e diz, olhando para o infinito:

  • Eu sou Vegano

Vale o mesmo para

  • Eu sou Advogado
  • Eu sou Evangélico
  • Eu sou do Greenpeace…

Ou qualquer outro pseudo-título que a pessoa possa ter. São as nossas hashtags sociais, que acabam entranhando na nossa psiquê, muito provavelmente por querermos ser aquilo que parecemos.

É uma ilusão querermos ser aquilo que adquirimos, sermos nossos trajes sociais. A língua portuguesa é rica ao dividir Ser e Estar. Falamos Somos Ricos, mas na verdade Estamos Ricos. O fator temporalidade nos foi dado pelo nosso caldo cultural.

A pessoa que assume a Santidade Adquirida passa por três etapas:

  • Compra (simbolicamente ou adquire mesmo) uma hashtag existencial do mundo achando que ela vai mudar seu DNA, sua personalidade. Pode ser aplicando Reiki ou comprando uma Ferrari.
  • Confunde o transitório com o definitivo
  • Sobe nesta hashtag como se ela fosse uma pequena banqueta, da qual irá se dirigir aos outros reles mortais

Toda Selfie publicada traz, em sua essência, estes três elementos citados acima. O contexto da foto é definidor da alma, do caráter da pessoa: Onde está, com quem está, fazendo o que. Mesmo todos sabendo que não há sustentação para isto, acreditamos no que vemos.

A complexidade da situação é que buscamos no mundo exterior a tal da hashtag, que pode ser um terno bonito, um tênis ou férias em Miami, e tentamos internaliza-la para que ela seja indissociável daquilo que somos.

Queremos a hashtag, mas não é para uso interno. Ela não nos sacia, ela serve para saciar o outro, e definir o andar em que estamos na relação hierárquica com o outro. Queremos ser melhores do que o outro, não necessariamente "evoluir", "transcender" etc.

Peço desculpas aos meus 13 leitores, mas tenho tido pouca paciência em ser didático nos meus textos nos últimos tempos. Numa era onde não faz diferença nenhuma tentar explicar e justificar, o texto acaba refletindo um pouco a nossa alma.

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