Por que visitar a exposição do Gauguin
Exposição estará no MASP até 06/08/2023
Alerta
Pelo que se sabe, Paul Gauguin teve um histórico de vida muito questionável para os valores dos dias de hoje. Abandonou a mulher e seus cinco filhos, teve uma vida boêmia, regada a álcool e drogas, era um desajustado, passou um tempo sem residência fixa, era amigo de pessoas desequilibradas (como Van Gogh), se mudou para o Taiti, onde provavelmente abusou de meninas menores de idade e morreu de sífilis.
Se você está disposto a ir na exposição de um sujeito como este, leia o texto abaixo. Senão, vá na exposição de algum artista que tenha tido uma vida inatacável e inquestionável. Torço para que ache algum.
O que há para ser visto, além das pinturas?
Gauguin viveu entre o século XIX e o XX. Parte de sua vida adulta foi passada em Paris e arredores, o epicentro cultural daquela época.
Conviveu com os artistas de vanguarda, viveu durante as grandes revoluções que transformaram o mundo. Darwin, Freud, Marx, Nietzsche. Viu o cinema surgir, saiu no tapa com o Van Gogh, curtiu a boêmia parisiense.
E resolveu desistir de tudo.
Gauguin vê o século XX florescendo e decide vazar. Aquela loucura não era para ele. Vende todos seus quadros (a grande maioria comprada por amigos pintores) e se muda para uma ilha isolada no Taiti.
Rousseau e o mito do Bom Selvagem
Ainda hoje Rousseau nos atormenta, traz aqueles pensamentos em nossa cabeça ai, se eu largasse tudo e fosse viver da minha arte na praia…
E a mosquinha do Rousseau picou Gauguin, que largou tudo (dizem que nem os pincéis ele levou) e foi viver de Sarong na Polinésia.
Agora vem a parte interessante de verdade
Quando Gauguin chega no Taiti, passa a viver com a população local, mas depois de um tempo percebe que ele largou a pintura mas a pintura não largou dele. E quer voltar a fazer seus quadros, mas como, se ele deixou tudo para trás?
Com um pequeno canivete, passa a fazer xilogravuras usando tinta extraída das plantas. E se expõe ao novo, não só no sentido cultural (estar num lugar com hábitos totalmente diferentes dos dele) mas também pela linguagem, diante da precariedade dos recursos para dar vazão ao espírito criativo.
A necessidade é a mãe da invenção
Assim, se você for ao MASP ver a exposição, verá muita coisa, já que temos quadros de quando Gauguin estava na Europa, depois temos gravuras de quando foi para o Taiti, outros quadros da época em que ele volta para a Europa e a safra final, quando ele leva seus pincéis e telas para o Taiti e faz obras para lá de estupendas.
Paleta de Cores
Você vai ver a paleta de cores esquentando gradualmente nos quadros, vai ver influências asiáticas nos padrões, formas e texturas, tudo dentro de uma obra de um pintor com formação clássica. Algumas pinturas parecem saídas de um período renascentista, mas com cores e modelos polinésios.
Um homem em constante transformação
Recomendo muito a visita pois fica evidente a complexidade do personagem, a trajetória em busca de sua arte e pela beleza fora de série de suas obras.
Quando a tua mão direita estiver hábil, pinta com a esquerda; quando a esquerda ficar hábil, pinta com os pés — P. Gauguin