Sobre os Espelhos e os Matadouros

Alessandro Bender
2 min readApr 8, 2018

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[2018>2022] Soylent Green (No mundo de 2020) não é um baita filme, mas tem uma premissa distópica muito interessante. Em 2022 a comida é escassa, e as pessoas comem uma ração genérica por falta de outra coisa. Quem domina o mercado é a fábrica desta ração. Não vou falar mais para não dar spoiler.
O que me chamou a atenção quando assisti (ainda criança) é que quem monitorava as pessoas eram os espelhos. Onde tivesse um espelho você estava sendo vigiado.
A ideia de que o reflexo te vigia é absolutamente atual, em se pensando na persona que pretendemos projetar para os outros e que acaba nos dominando também.
Percebemos os valores das pessoas a partir da construção do discurso delas, quando falam de si mesmas. Presto muita atenção nestas narrativas ficcionais.
Escolhemos alguns elementos de nossa história para criar este personagem fictício que chamamos de Eu. Vendemos tão intensamente este Eu para os outros que num determinado momento precisamos dar conta de entregar este Eu também para nós mesmos.
Daí a complexidade do espelho. Quem olha para a gente agora é ele, e não nós que olhamos para ele.
Voltando ao filme, quem monitora as pessoas através do espelho é a fábrica de comida, sempre à espreita, onipresente.
Resumindo, se você bobear seu reflexo te engole.
(Foto da porta principal do antigo Matadouro Municipal da Cidade de SP, atual Cinemateca)

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Alessandro Bender

pesquisador do comportamento humano, tendências e arte