Uma Multidão de Kaspar Hausers

Alessandro Bender
3 min readSep 11, 2019

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Bruno S. , o incrível ator de Kaspar Houser, 1974

Um jovem encontrado perdido que sabia apenas falar seu nome e aparentemente sem nenhum contato com outras pessoas. Pelo pouco que se sabe teria sido mantido durante a infância enclausurado numa torre, sem contato com ninguém, apenas recebendo comida e roupa.

O misterioso Kaspar Hauser viveu no Século XIX . Sua história virou livro e depois filme, do diretor Werner Herzog.

Um detalhe que chamou a atenção das pessoas que o encontraram é que apesar de não saber ler nem falar, rapidamente aprendeu jardinagem, tricotar e uma série de outras atividades técnicas, mas tinha muita dificuldade em compreender as relações sociais, ciências e religião.

Este estranhamento com a sociedade e com as relações interpessoais é visível hoje em nossos jovens e adolescentes. Aparentemente, como Kaspar Houser, nossos jovens não foram treinados para conviver e compreender as relações com outras pessoas. A frágil conexão que existe é através do digital, definida por algoritmos, ostentação, exibicionismo e coleta de Likes, onde o céu (ou o inferno) é o limite.

Dificuldade em lidar com o fracasso, falta de compreensão da importância do processo, foco apenas no produto final, baixíssima capacidade de enxergar o outro com suas diferenças e incompreensão básica das relações hierárquicas (o que o impede de estabelecer vínculos estruturados com adultos ao seu redor).

Não é difícil de entender que se apeguem à pseudo-ciências, fake news ou youtubers: As regras de convívio e as estruturas sociais não são claras para eles, e é desta maneira que animais sociais disseminam as bases que constituem suas culturas. Elefantes mais velhos ensinam aos mais novos por onde ir, lobos também. Em todas as culturas humanas os mais velhos transmitem para os mais novos, quer seja por fala ou livros, o que deve e o que não deve ser feito.

Frutos de uma sociedade segmentada, isolados em condomínios, sem convivência com os pais, estimulados apenas por aparelhos eletrônicos, induzidos a responder e não a perguntar, nossos jovens são, de certa maneira, uma multidão de Kaspar Housers.

Resumindo: Não adianta dar comida, vestir e isolar.

Pergunta: O que podemos fazer por estes jovens, que não reconhecem a autoridade dos especialistas, dos mais velhos e que têm dificuldades em criar vínculos entre si, além de estranharem a ciência e terem dificuldade para abstrair na direção de deus ou da filosofia?

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